terça-feira, 26 de agosto de 2008

A Ostra E O Vento

Vai a ondaVem a nuvemCai a folhaQuem sopra meu nome?Raia o diaTem serenoO pai ralhaMeu bem trouxe um perfume?O meu amigo secretoPõe meu coração a balançarPai, o tempo está virandoPai, me deixa respirar o ventoVentoNem um barcoNem um peixeCai a tardeQuem sabe meu nome?PaisagemNinguém se mexePaira o solMeu bem terá ciúme?Meu namorado erradioSai de déu em déu a me buscarPai, olha que o tempo viraPai, me deixa caminhar ao ventoVentoSe o mar tem o coralA estrela, o caramujoUm galeão no lodoJogada num quintalEnxuta, a concha guarda o marNo seu estojoAi, meu amor para sempreNunca me conceda descansarPai, o tempo vai virarMeu pai, deixa me carregar o ventoVentoVento, vento.
(Chico Buarque)

me carrega, me leva...desse desterro, desse emaranhado...de confusões aqui por qüi. alma cansada e deslavada, talvez aja tempo para descansar ou aja tempo para renascer. ''Porque o eu é sempre recomeço''. Forças para recomeçar, a cada dia...quero o brilho no meu olho que não mais o vi. Água.

domingo, 24 de agosto de 2008

O cavaleiro das asas negras chegou até ela com um olhar convidativo e como num piscar de olhos sumiu. Ela procurou, procurou e procurou: só percebeu rastros deixados por ele de forma confusa e sublime. Encontrou-o tempos depois numa roda viva e colorida de um dançar esfuziante. Ele veio até ela, sorriu de felicidade e a segurou nos braços de uma forma que a sensação no corpo dela havia ficado grudada por algumas horas. Ela queria dançar com ele, fosse o que fosse, mas ele como ser misterioso é para se guardar na memória do coração doce que canta.

sábado, 23 de agosto de 2008

desalinho na alma é como loucura incrustada na normalidade. melhor assim do que sentir o que sentia: um frio gélido de vazio mais choro preso. por um instante estava bem, daí logo vinha o estar ruim. um sobe e desce, desce e sobe, sobedesce, descesobe, essobedcesses de emoções. tudo junto, tudo emaranhado, sem explicação e sem emoção também, porque sentir já havia virado costume e como todo costume cristalizado, sem verdade ou passível de...verossimilhança.
pesadelo que era um sonho que não se realizava constantemente...

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

ela saiu pelas ruas trajando a saia de retalhos coloridos, que junto aos volumosos cachos puseram-se a voar e os transeuntes a olhar. Mesmo com seu brilho aparente sentia um estranho preto e branco no peito. Parou e ficou a espera do ônibus, aquele mesmo que sempre a levava a um de seus cantos preferidos e sim, este de agora era o mesmo de antes do qual havia pegado horas anteriores a estas de agora. Subiu, reconheceu aquele ambiente, mas sempre com novos elementos e via dessa vez, tudo tão mais as claras: o olhar do menino para ela com alguma intenção, a risada de zombaria dos detrás, o não olhar da senhora que a fez ter vontade de sumir, o olhar caraolho cheio de história do senhor mais a frente e tudo o mais parecia querer explodir pela sua visão e audição. Suas percepções aumentavam cada vez mais e mais e quando, depois de descer do ônibus e dimuindo os passos para quando ele virasse na esquina, ela pudesse dar uma última olhada para o senhor do olhar caraolho cheio de história, veio em sua mente um momento ao qual tivera antes daquele. Ao banhar-se e escutando uma das músicas ao gosto dos dois, começou como num gesto instantâneo a remexer o corpo ao sabor do ritmo da música. Os movimentos desenhavam todo um jorrar d´água de suas ancas a suas nâdegas e além do quê, o caminho sensual percorrido nos seios, na cintura...de olhos fechados ela fazia-se leve ao pensar num compasso de dança para os dois, de imaginar que toda aquela água tocando seu corpo poderia ser o desenho do corpo dele unido no seu, que lambuzava um ao outro numa vontade desmedida. Queria tê-lo naquele momento, mas sempre deixando seus braços abertos para que ele pudesse voar quando quizesse, pois como ela, ele não pertencia a ninguém, assim, como livres pássaros que quando desejam dão o ar da graça. Parou de pensar. Sentiu-se mal. O tempo parecia querer engoli-la. O devaneio parecia não querer se juntar a realidade. Ela como dias antes, só imaginava. Não vivia. Não tinha. Gostaria...talvez.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

''Sonhou com o homem que imaginava a noiva do buquê de alface. Quis perder-se no sonho, no pensar dele. Sentia, na sua doce ilusão, que se ele era o amarelo por dentro do olho da noiva, ela podia ser a transfiguração real da imagem da noiva. Queria que ''ela-noiva'' e ''ele-criador'' pudessem um dia se encontrar. Todo esse querer de instante em instante oscilava do leve ao intenso, mas sim, ela desejava. Desejava querendo, que o transitar dos ventos impulsionasse a liberdade fulgaz que os rodeavam para uma dança, onde no movimentar dos corpos o calor unido destes os levaria ao êxtase.''

sábado, 9 de agosto de 2008

ela quer chegar mais perto, ela quer tocar. Ainda reside medo, mas vontade que cresce e enche o peito de meias, falsas ou verdadeiras esperanças...de ainda não sabe-se o quê, mas ao menos do que se quer...um querer meio assanhado, meio tímido, meio desprovido ou cheio de intenções...tão boba de tanto imaginar e sentir, mais fácil seria viver não?! Mas ela não consegue ou não quer. Ou até sabe e quer, mas assim bem passageiro. O colorido e saltitar do seu coração não espera acontecer, e na verdade nunca acontece...ao menos não da forma que ela tanto anceia. E de tanto anciar nada têm, nada cria, nada reside nela...só de instante em instante...é desprovida de posses e gosta tanto da liberdade, mas é tão só meu deus...vazia. vazia. vazia. linda, mas cheia de pontas negras no peito, que insistem em permanecer em si...será que o que é passível de fazer-se sentindo é o bastante suficiente para cessar a dor...que dor? a criada ou a que realmente existe? será que existe? tão confusa como ela só. preferia ser outra as vezes, mas é ela mesmo...se é.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

''Ela era normal.Normal como qualquer noiva que caiba nas histórias. A não ser pelo enorme buquê de alfaces verdes que segurava com as duas mãos.Essa era a imagem que tinha qualquer transeunte da rua larga: uma mulher vestida de noiva na parada de ônibus com um buquê de alfaces nas mãos.Eu passava de ônibus. Do outro lado.É tudo que sei daquela mulher.A não ser por um olhar amarelado de espera que eu vi.Sentia em volta dela qualquer coisa meio estranha de estar fora do tempo.Ela espera?Ela foge?Quem era ela? Vesti-me de noiva em casa. Empunhei eu um enorme buquê de alfaces.Devorei folha por folha na angústia derradeira de não entender aquela alma parada.Não satisfeito, saí na minha rua e gritei: eu sou a noiva parada no tempo e por fora do espaço!Quando me vi nos olhos de quem me olhava, corri para fora da rua, para longe da casa.Em mim soprava o mesmo vento que sacudia o véu da mulher fora do tempo.Em mim sustentava-se abaixo o mesmo chão, desalinhado por meus pés de desespero.Desespero: quando nos damos conta de que nada mais pode ser feito e não aceitamos.Me dei conta: eu era o amarelo por dentro do olho da noiva.''

(Paulo José)