sexta-feira, 22 de agosto de 2008

ela saiu pelas ruas trajando a saia de retalhos coloridos, que junto aos volumosos cachos puseram-se a voar e os transeuntes a olhar. Mesmo com seu brilho aparente sentia um estranho preto e branco no peito. Parou e ficou a espera do ônibus, aquele mesmo que sempre a levava a um de seus cantos preferidos e sim, este de agora era o mesmo de antes do qual havia pegado horas anteriores a estas de agora. Subiu, reconheceu aquele ambiente, mas sempre com novos elementos e via dessa vez, tudo tão mais as claras: o olhar do menino para ela com alguma intenção, a risada de zombaria dos detrás, o não olhar da senhora que a fez ter vontade de sumir, o olhar caraolho cheio de história do senhor mais a frente e tudo o mais parecia querer explodir pela sua visão e audição. Suas percepções aumentavam cada vez mais e mais e quando, depois de descer do ônibus e dimuindo os passos para quando ele virasse na esquina, ela pudesse dar uma última olhada para o senhor do olhar caraolho cheio de história, veio em sua mente um momento ao qual tivera antes daquele. Ao banhar-se e escutando uma das músicas ao gosto dos dois, começou como num gesto instantâneo a remexer o corpo ao sabor do ritmo da música. Os movimentos desenhavam todo um jorrar d´água de suas ancas a suas nâdegas e além do quê, o caminho sensual percorrido nos seios, na cintura...de olhos fechados ela fazia-se leve ao pensar num compasso de dança para os dois, de imaginar que toda aquela água tocando seu corpo poderia ser o desenho do corpo dele unido no seu, que lambuzava um ao outro numa vontade desmedida. Queria tê-lo naquele momento, mas sempre deixando seus braços abertos para que ele pudesse voar quando quizesse, pois como ela, ele não pertencia a ninguém, assim, como livres pássaros que quando desejam dão o ar da graça. Parou de pensar. Sentiu-se mal. O tempo parecia querer engoli-la. O devaneio parecia não querer se juntar a realidade. Ela como dias antes, só imaginava. Não vivia. Não tinha. Gostaria...talvez.

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