segunda-feira, 4 de agosto de 2008

''Ela era normal.Normal como qualquer noiva que caiba nas histórias. A não ser pelo enorme buquê de alfaces verdes que segurava com as duas mãos.Essa era a imagem que tinha qualquer transeunte da rua larga: uma mulher vestida de noiva na parada de ônibus com um buquê de alfaces nas mãos.Eu passava de ônibus. Do outro lado.É tudo que sei daquela mulher.A não ser por um olhar amarelado de espera que eu vi.Sentia em volta dela qualquer coisa meio estranha de estar fora do tempo.Ela espera?Ela foge?Quem era ela? Vesti-me de noiva em casa. Empunhei eu um enorme buquê de alfaces.Devorei folha por folha na angústia derradeira de não entender aquela alma parada.Não satisfeito, saí na minha rua e gritei: eu sou a noiva parada no tempo e por fora do espaço!Quando me vi nos olhos de quem me olhava, corri para fora da rua, para longe da casa.Em mim soprava o mesmo vento que sacudia o véu da mulher fora do tempo.Em mim sustentava-se abaixo o mesmo chão, desalinhado por meus pés de desespero.Desespero: quando nos damos conta de que nada mais pode ser feito e não aceitamos.Me dei conta: eu era o amarelo por dentro do olho da noiva.''

(Paulo José)

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